Porque o zero absoluto nunca existiu. Porque não existe frio mas ausência de calor. Porque não existe escuridão mas ausência de luz.
Começo a escrever sem me sentir seguro de estar preparado e penso. Se tivesse a certeza faria-o sem pensar. Mas cuido nunca vir a ser capaz de o fazer instintivamente. Como com o sentido natural que as abelhas utilizam para colher o pólen. Como com a programação empregue num motor de busca que procura o que nele foi escrito e de seguida premido enter. Como com a celestial conformidade que tem o planeta a rodar à volta da sua estrela.
Torna-se impossível. Num sentido natural pelo menos. Se vivesse desde sempre para sempre, então talvez. Talvez. Num determinado momento, fruto de um felicíssimo acaso, quando estivesse o mais despercebido possível, se após todos os meteoritos, cometas, satélites, planetas, estrelas, quasares, super-novas, galáxias e todos os corpos celestiais pertencentes ou até não-pertencentes ao universo estivessem alinhados, em sintonia, se deus estivesse de acordo, se o caldo primordial a que chamamos deus estivesse de acordo, e eu tivesse existido desde sempre para sempre e estivesse desde sempre e para sempre tentando, entao talvez. Talvez.
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